TAMBOR DE CRIOULA UMA TRADIÇÃO QUE SE RENOVA

Por Jucey Santana

O Tambor de São Benedito, é uma tradição na rua João Buzar, em toda  virada do ano, que acontece a mais de 60 anos  sob a responsabilidade dos irmãos, Maria Sampaio e Zé Mário Sampaio.

A festa inicia pela manhã com o rufar dos tambores durante todo o dia 31, entrando pela noite e encerrando ao raiar do dia  1º do novo ano.  É costume local, as pessoas irem para praça Gomes de Sousa ver as bandas e os fogos  depois se encaminharem ao local do tambor onde se deleitam com a roda  colorida das indumentárias e os volteios vibrantes, harmoniosos  e sensuais das brincantes.  A brincante escolhida pela pungada (toque de barriga) da companheira, se apresenta individualmente no interior da roda, sendo a responsável pela coreografia principal, acompanhada pelos tambores.

O tambor de CRIOULA é uma dança de origem africana. A indumentária é livre, geralmente as mulheres se apresentam  vestidas  em saias rodadas com estampas em cores vivas, anáguas largas com renda na borda e blusas rendadas e decotadas. Os adornos de flores, colares, pulseiras e torços coloridos na cabeça compõe a  caracterização das dançantes. A toada é puxada pelos homens (que pode ser improvisada) com o acompanhamento das mulheres (refrão) seguidos pelos instrumentos. Os cantos podem ser de louvação aos santos,  sátiras, homenagem aos visitantes, lavoura, plantação, desafio dos cantadores, coisas do dia a dia e outros.
Como bem retrata o poeta abolicionista maranhense, Trajano Galvão no poema “A Crioula” em 1853:

       Ao tambor, quando saio da pinha
       Das cativas, eu danço gentil,
       Sou senhora, sou alta rainha,
       Não cativa – de escravos a mil
       Com requebros a todos assombro,
       Voam lenços, ocultam-me o ombro,
       Entre palmas, aplausos furor!...
       Mas se alguém ousa dar-me uma punga,
       O Feitor de ciúme resmunga,
       Pega a taca, desmancha o tambor!

O tambor de Maria Sampaio como é conhecido reúne os grupos de várias comunidades, como Santa Rosa do Barão, Felipa e Oiteiro.

Segundo Maria Sampaio, o tambor existe desde o início dos anos 60 do século passado, iniciando com  Zé Sampaio, Benedito Sampaio, Roque Sampaio, seu pai e tios, com o patrocínio do prefeito da época Abdala Buzar, que foi o seu maior incentivador. Maria Sampaio lembrou ainda os renomados cantadores e batedores: Zé do Néia, Bertulino Campos e João Sampaio. Atualmente ela se ressente com a dificuldade de encontrar bons cantadores, puxadores de toadas e tambozeiros, contando ainda  com Juvêncio da Santa Rosa que mesmo com deficiência visual,  é ainda um dos melhores puxadores,  Patricinho da Felipa, excelente batedor de tambor grande e Vaqueiro de Oiteiro que reúne as qualidades e cantador, puxador de toadas e batedor, que são imprescindíveis no evento.

É com satisfação que acompanhamos muitos jovens  entusiasmados com a preservação do tambor de crioula. Maria Gabriela Sampaio de Azevedo, de 19 anos acadêmica de Serviços Sociais na FACAN  e sua irmã Glenda de 21 anos em conclusão do curso de Nutrição, afirmaram que se emocionam com a festa lembrando que dançam desde criança e que o  tambor é uma prioridade em suas vidas. Dançaram a noite toda. Muitas outras jovens disputavam o espaço com as mais experientes como a  cabeleireira, Ravena Sampaio, as crianças Jamile (9) e Anne Roberta (7) e muitas outras. Mostrando assim a renovação da cultura é uma realidade.

O também de CRIOULA recebeu o título da UNESCO em 2007 de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade que será renovado em 2017.  O título é uma concepção que abrange  as expressões culturais e as tradições que preserva e respeita a ancestralidade de um povo para as gerações futuras.