ITAPECURUENSE NOTÁVEIS


BERTULINO CAMPOS – O Canário Cantador
 
Por Jucey Santana

Contrariando a realidade do nordestino, com alto grau de analfabetismo, a grande popularização da literatura regional encontrada no meio das danças folclóricas se dá pelos esforços dos poetas autodidatas, que compõe e interpretam seus sentimentos para divertir o povo em determinadas regiões em época específicas.

            Esses poetas cantadores, em sua grande maioria de origem humilde, oriundos do campo, das roças migram para os centros urbanos onde passam a produzir suas toadas, muitas vezes com talentos hereditários, se tornando grandes líderes naqueles seguimentos, da cultura popular. Precisamos conhecer melhor, valorizar e respeitar a multiculturalidade própria de cada região, os significados, experiências, as lendas, o imaginário do folclore, e assim manter viva na memória, a identidade do nosso povo. 

Negro Leo, Buzar,Bertulino e Moaciene
            Em se tratando, de grandes representantes da cultura popular de Itapecuru Mirim, sem dúvida, não podemos deixar de lado,   Bertulino Campos.Berto estava presente em todas as  manifestações culturais, do nosso município, do bumba meu boi também participava  das festas do  Divino,  Rodas de Coco,  Jornadas de São Gonçalo, Tambor de Crioula,  que são momentos ricos da cultura popular, precisamos valorizar essa rica diversificação que temos como difusor da nossa cultura.
              Bertulino é pouco conhecido no município, porém no na área da Aviação, Magal Escuro, Vinagre, Lago Encantado, Nova Aurora e toda aquela a região ele é unanimidade, inclusive entre os jovens,  que se emocionam ao relembrar o grande mestre. A produção musical de Berto, rica e diversificada própria de sua personalidade arrojada, girava em torno de:  fatos políticos, lendas,  milagres dos santos, a vida do lavrador, magia, fé, São João, pobreza, terra. Como era muito galanteador, cantava muito o amor, com uma produção simples como o povo, sem muitas formalidades, mas com a participação popular e a alegria.  A sua música mais popular era “Morena”, cantada no seu enterro. Vale lembrar que durante o velório, houve várias manifestações populares, com diversas danças, onde se apresentaram os  amigos Silas Gomes, Moaciene Lima, Maria Sampaio e outros.

   MORENA
 Morena, este teu corpo me mata, / Este teu cabelo me maltrata
O meu pobre coração.  / Eu vou me embora daqui
Vou me embora daqui  / Aqui não posso ficar
Com uma dor no coração  / Sem ter onde me tratar.

            Natural da vizinha cidade de Carema (hoje Santa Rita), era filho de  José Meneses e Agostinha Campos, nasceu em 24 de agosto de 1915.  Seu pai veio de Carema no final dos anos 20 do século passado estabelecendo residência no povoado Nova Aurora, ficando o jovem Bertulino em Santa Rita, casando-se  aos 16 anos com a senhora Adriana Muniz Campos com quem teve 12 filhos. O seu pai Ze Menezes  tinha uma promessa de botar  boi todo ano,e o  Berto mesmo morando em Santa Rita, vinha brincar os folguedos e ajudar o pai na montagem do evento. Depois que nasceram seus dois primeiros filhos por volta do ano de 1935 mudou-se de vez para o povoado  Nova Aurora, passando a trabalhar com o pai, na organização dos Bois, que era a grande paixão da família. Alguns bois de  Zé Menezes: “Flor do Amor”   “Beija Flor”  e  “Brilho da Terra”

             Nos anos 40 o Berto já botava seu próprio boi, sendo o primeiro “B Dourado”, depois veio “Diamante”  “Alegria do Povo”  “Linda Amante”  e muitos outros, mas era conhecido mesmo, como “Boi do Bertulino” ou “Boi da Aviação” 

             Segundo Zé do Mariano (José Bezerra) com 75 anos “comecei dançar com Berto em 1950, desde os treze anos e nunca mais parei e o Nato da Lavandeira era sempre o miolo do boi”

 “O coro do boi era, confeccionado por bordadeiras de Rosário, e o próprio Berto  fazia a armação, com a ajuda dos brincantes” continua  Zé do Mariano.
Ele era amo, cantador, líder,  o primeiro contra amo foi seu irmão José Menezes, depois Afranísio e outros mais.

          A morte dos bois sempre acontecia no largo onde hoje é a Praça do Viva.  Era um evento carregado de emoção, muitos choravam, entre brincantes e simpatizantes, tendo muitas estórias de desmaios ocasionadas pelo tom de tristeza do acontecimento.
 “Já morreu, já morreu,
Já se acabou./ Mataram meu B Dourado,  
Grande paixão me deixou”

“Tem uma dor no meu peito
Outra em meu coração / De ver o meu boi amarrado
Na praça, naquele mourão”.

              As primeiras notícias que se tem de manifestação junina, com bumba boi, em nosso município,  de maneira muito acanhada era levada era feita de porta em porta, relembrando os costumes do Reizado.

A partir de maio começava a programação, sendo apalavrado  antes as casas a se apresentar. Era costume começar pela casa do Juca Magarefe, depois a casa de Graciete, Miguel Fiquene e outros.

A apresentação oficial, quando descobria a “pinta”  (descer o pano que cobria o boi) era na porta de Abdala Buzar, que era o maior incentivador  da brincadeira. Ele criava a música de acordo com a situação. Exemplo:

  “ Itapecuru é uma cidade querida / De um povo hospitaleiro
Que possui educação / Porisso eu falo confiante
Com toda clareza. / Do meu coração / O doutor Nonato Cassas
 e Abdala Buzar com certeza  / São amigos da população”

Exemplo de desafio,  no  encontro com outro boi, geralmente de Santa Rita:
“Eu botei meu boi na rua / Para o povo ver
Contrário ficou com medo / Do meu batalhão
Escuta contrário, o que vou te dizer.
Minha trincheira está formada / Com armas na mão”

“Ó lá vai  boi,  é de Santa Rita
Ele vai derrubando as coroas dos cantores
Te arreda contrário / Lá vai seu superior”

Berto mandava anunciar na Voz Marília,  o início das apresentações.
“ Eu preparei uma mensagem
E botei no alto falante / Mandando tirar licença
Pra brincar com Linda Amante”

Bertulino estava presente em todos os eventos culturais com os seus acessórios inseparáveis, o boné e o seu cavaquinho.“O coro do boi era, confeccionado por bordadeiras de Rosário, e o próprio Berto  fazia a armação, com a ajuda dos brincantes” conta Zé do Mariano.

 em que ele era amo, cantador, líder,  o primeiro contra amo foi seu irmão José Menezes, depois Afranísio e outros mais.

          A morte dos bois sempre acontecia no largo onde hoje é a praça do Viva.  Era um evento carregado de emoção, muitos choravam, entre brincantes e simpatizantes, tendo muitas estórias de desmaios ocasionado pelo tom de tristeza do acontecimento. 

        Outra companheira do Berto,  que esteve ao seu lado por muitos anos, chama-se Raimunda Cabral: Mundica, não chegando a ter filhos com esta. A terceira  esposa, a Senhora Lina Campos, já tinha duas filhas já tinha duas filhas que foram adotadas por ele. As suas esposas sempre apoiaram e auxiliaram a sua arte, que segundo sua filha Eulália Campos da Silva - Lazinha, a casa vivia sempre cheia de brincantes e simpatizantes dos folguedos, e as esposa acolhia a todos com carinho. 

          Depois de uma malsucedida cirurgia de catarata, ficou sem enxergar, mas continuava a compor, e pedia que anotassem a letra. “Ele nunca sentiu tristeza na vida, e mesmo cego carregavam ele pra todo lado, onde tinha festa ele estava cantando” disse Silvia Campos sua neta.
         Ele era muito crítico de ouvido, quando escutava música na televisão, dizia: “Esse não sabe fazer música, não rimou”

          Já na velhice, passou a viver com o filho João da Cruz Muniz Campos e a neta Silvia de Sousa Campos, que cuidaram dele até sua morte em 23 de abril de 2012. Mesmo cego e quase surdo as pessoas continuavam  levar o mestre para os folguedo, para que puxasse os suas toadas criativas   Berto, como devoto de São Benedito da Casa de Forno, mantinha a promessa de bater tambor todo ano no dia do seu aniversário, em homenagem ao Santo, tornando-se tradição no bairro da Aviação, todo mês de agosto.
           
       Em 15 de maio de 1986 um grupo liderado por Bertulino, Bandeira, Adelino, José Santana e Manelino, foi criado o Boi da Cultura. Mais tarde em 13 de maio de 1995 nasceu o Boi Apaixonado tendo Moaciene Monteiro Lima como presidente fundador e Berto co-fundador.

       Pela contribuição que deu a nossa cultura, foi agraciado com o título de cidadão itapecuruense outorgado pela Câmara Municipal, no dia 07 de novembro de 1997.
     “O melhor dançador de Boi da cidade, ele botava boi todo ano e dançava tudo enquanto...
Hoje tem muito cantador mais não chega nem aos pés dele” diz emocionado seu amigo e também dançador Martins Sousa, morador da Aviação.

        Faleceu aos 97 anos deixando muitos netos, bisnetos e trinetos, deixando órfão muitos aprendizes, que eram seus seguidores. Perdendo muito a nossa cultura.

BERTULINO CAMPOS
   Autora: Maria Sampaio – Membro da AICLA

Eu mandei anunciar / Meu vaqueiro é hora é hora
Eu tenho o canário preso / Quando ele canta todo mundo chora

Quando eu fiz esta toada / Pensando no meu destino
Oferecendo ao cantador que  / Chama-se Bertulino

Bertulino é o canário / Eita canário cantador
Nesta Itapecuru já demonstrou / O seu grande valor
Juventude vai pra frente / Que chegou a nossa vez
Vamos então valorizar / Fazer o que Bertulino fez

Quando Bertulino cantava / Fez muita gente chorar
O canário que esta preso agora / Vai se soltar