![]() |
BENEDITO BUZAR
|
Dias atrás, o Governo do Estado e a Prefeitura Municipal de Itapecuru-Mirim assinaram um termo de cooperação técnica e financeira com vistas à municipalização do ensino fundamental. Pelo convênio, o governo transferiu ao município a gestão de imóveis, matrículas de alunos e recursos financeiros para a manutenção das escolas que faziam parte de sua estrutura organizacional.No bojo desse convênio, uma triste notícia para os itapecuruenses: o desaparecimento do Grupo Escolar Gomes de Sousa, que ao longo de oitenta anos, prestou inestimáveis e relevantes serviços à comunidade, educando numerosas gerações e possibilitando o ingresso de dezenas de alunos em estabelecimentos de nível médio e superior de onde saíram qualificados para o mercado de trabalho.
Para quem nasceu e viveu em Itapecuru, o triste fim dado àquela tradicional unidade escolar foi inesperado, brutal e injustificável, ainda que o Governo do Estado e a Prefeitura procurem explicá-lo como uma iniciativa benéfica para a gestão dos negócios educacionais.Ao tomar conhecimento da decisão que culminaria na eutanásia do Grupo Escolar Gomes de Sousa um sentimento de revolta e de inconformismo apoderou-se de mim, a ponto de levar-me à Secretaria de Educação do Estado, onde além de registrar repúdio ao convênio, também, ofereci alternativas para salvar aquela importante unidade de ensino.
Registra o Diário Oficial do Estado do Maranhão que o Grupo Escolar Gomes de Sousa passou a ter vida legal em Itapecuru em junho de 1933, por iniciativa do coronel-comandante do 24º Batalhão de Caçadores, Álvaro Jansen Serra de Lima, que, na interinidade do cargo de interventor federal, assinou o decreto nº 457, transferindo-o da cidade de Carolina para a de Itapecuru, com base na proposta da diretoria-geral da Instrução Pública estadual.
Por falta de prédio próprio, o então prefeito de Itapecuru, José Paulo Pinheiro Bogéa (meu avô), conseguiu, como solução provisória, que o “coronel” Bento Nogueira da Cruz cedesse uma casa de sua propriedade, ampla e com muitas salas, localizada na antiga Rua da Passagem, mais tarde transformada na Avenida Gomes de Sousa, para ali instalar o Grupo Escolar.
Com o passar dos anos, a casa onde funcionava o Grupo Escolar, em função do crescente número de matrículas, tornou-se inadequado, limitado e sem condições de atender à demanda do alunado. As professoras, todas normalistas, e a comunidade começaram a pressionar e a reivindicar dos prefeitos ações junto ao governo do Estado, objetivando a construção na cidade de um prédio próprio e ajustado à nova realidade educacional do município.
Em 1943, na gestão de Bernardo de Matos, a prefeitura conseguiu do interventor Paulo Ramos recursos para a viabilização do projeto que dotaria a cidade de um prédio moderno onde o processo ensino-aprendizagem pudesse apresentar melhor rendimento. Mas, em outubro de 1945, por causa da implosão do Estado Novo, da renúncia do interventor Paulo Ramos e da demissão do prefeito Bernardo de Matos, a construção do Grupo Escolar foi interrompida.
A reativação da obra deu-se com a implantação do governo de transição, que conduziu o empresário Saturnino Belo à interventoria do Maranhão, e o comerciante Abdala Buzar à prefeitura de Itapecuru.Para não frustrar a comunidade e não deixar que a obra caísse no esquecimento, o prefeito Abdala Buzar conseguiu do interventor a liberação de recursos suficientes para a conclusão do Grupo Escolar Gomes de Sousa, que, depois de sete meses de intenso e acelerado trabalho, nos meados de novembro de 1946, foi festivamente inaugurado.
Como se não bastasse esse fato, auspicioso e emblemático para este escriba, guardo na memória esta singela singularidade: nele fui alfabetizado e estudei os cinco anos do curso primário. Com orgulho e honra, proclamo em alto e bom som, que fiz parte das primeiras turmas do novo colégio, onde pontificavam professoras competentes e dedicadas, que se entregavam de corpo e alma ao ofício sublime do magistério.
Mestras do quilate de Maria Celestina Nogueira da Cruz (Celé), Anozilda dos Santos Fonseca (Santinha), Teotônia Sanches Ewerton (Tusa), Maria das Dores Tavares (Sinhá) e outras marcaram não só a minha vida, mas também a de numerosos colegas de geração, que delas receberam lições e exemplos edificantes e serviram de balizamento para a nossa formação humana, ética e profissional.
O ensino adotado e transmitido pelas professoras do Grupo Escolar Gomes de Sousa era de tal modo completo, fecundo e rico que dava ao alunado base suficiente para aprovação nos exames de admissão ao curso ginasial em qualquer colégio de São Luís.Eu, por exemplo, em 1950, à falta de ensino secundário em Itapecuru, fui levado a São Luís para fazer o exame de admissão ao ginásio no Colégio dos Irmãos Maristas.
Passei direto e bem classificado em razão primordialmente do excelente curso primário ministrado no Grupo Escolar Gomes de Sousa, ao qual devo boa parte do meu sucesso profissional e intelectual, pois nele vivenciei atos e condutas exemplares e aprendi lições de vida que forjaram a minha personalidade.